Cultura que impulsiona para o desenvolvimento

  • Vandro Welter - Religião e educação são prioridades na cultura alemã

De geração em geração, a cultura alemã se fortalece no extremo oeste e contribui para resultados positivos para a região

Rica em personalidades e tradições, assim é o extremo oeste catarinense. Uma região acolhedora, de vários povos e culturas. São descendentes de italianos, de poloneses, de caboclos, de portugueses e alemães espalhados pelos pequenos municípios da região.

De acordo com o antropólogo e professor universitário Paulino Eidt, algumas destas culturas predominantes na região são consideradas mais “abertas”, toleram mudanças e não resistem à incorporação de outros costumes, é o caso dos italianos, poloneses, portugueses e caboclos. Outras são denominadas mais fechadas, seguem a risca seus idealismos e não são simpatizam com novas tradições, como é o caso principalmente da cultura Deutsche - alemã - considerada etnocêntrica - visão de mundo característica de quem considera o seu grupo étnico, nação ou nacionalidade socialmente mais importante do que os demais. “É uma cultura bastante endogâmica que vive para si ou para dentro de si. Não sendo tão aberta, isogâmica, como é a cultura italiana, por exemplo”, diz Eidt.

Conforme o antropólogo esse etnocentrismo alemão é uma das causas que faz com que a cultura Deutsche permeie e se mantenha forte ao longo das gerações. Essa atitude etnocêntrica, forte caraterística dos germânicos, é considerada em alguns casos polêmica e chama a atenção. 

Para entender melhor como os costumes alemães ainda influenciam o dia a dia na região a reportagem do Folha do Oeste vai destacar o valor cultural, a contribuição e as dificuldades enfrentadas por este povo europeu que veio ao Brasil em busca de novas oportunidades e com a obstinação e o forte idealismo acabou mudando e transformando o cenário regional tal qual como o conhecemos hoje.

Desde a segunda década do século 20, um aglomerado de descendentes Deutsche vivem na região. Atualmente há alemães em praticamente todos os municípios. Porém, o início desta cultura no extremo oeste catarinense, datada em 1926, estreou com o projeto Porto Novo e Porto Feliz. Regiões de terras onde apenas podiam se instalar descentes germânicos. Com o passar do tempo Porto Novo e Porto Feliz deram origem aos municípios de Itapiranga, São João do Oeste e Tunápolis e ainda, Riqueza, Iporã do Oeste e Mondaí, respectivamente.

Foi principalmente nestas cidades da região que a cultura germânica se fortaleceu no decorrer dos anos, com destaque para São João do Oeste. No município é possível se ter uma breve impressão de como é estar na Alemanha. A população local mantém as tradições deixadas pelos seus antepassados. Nas ruas, é possível escutar o dialeto alemão pronunciado por todos os munícipes, sejam eles descendentes de alemães ou não. Essa atitude cultural já rendeu ao município o título de Capital Catarinense da Língua Alemã. De acordo com a professora mestre em Linguística (português, alemão e inglês), Valesca Simon Pauli, de São João do Oeste, no local 97% das pessoas falam o idioma alemão. 

TRAJETÓRIA

A vinda dos alemães para países da América, incluindo o Brasil, teve forte influência da Revolução Industrial, iniciada no século 18 na Inglaterra e que décadas mais tarde atingiu outros países europeus, dentre eles a Alemanha. “A emigração alemã foi muito forte na terceira e quarta década do século 19. Naquele período foi muito intenso a entrada de alemães no Sul do Brasil e ainda no Rio de Janeiro e no Espirito Santo”, destaca Eidt.

O marco inicial da colonização alemã, segundo o antropólogo, se deu em 1824, em São Leopoldo (RS). Posteriormente as cidades catarinenses de Blumenau, Joinville e Brusque também receberam colonizadores Deutsche, completando assim os considerados pontos de colonização inicial da cultura germânica. “Na segunda e terceira década do século 20 a explosão demográfica destes alemães que tinham famílias com muitos filhos impulsionou novas frentes de imigração. Eles começaram a povoar outras regiões do Rio Grande do Sul e também os primeiros municípios do oeste catarinense como Chapecó, Palmitos, Joaçaba e Xanxerê”, comenta Eidt.
Segundo o antropólogo, logo que chegaram à região oeste, os alemães encontraram muitas dificuldades. “Um dos motivos foi isolamento das demais culturas. A priori rejeitavam qualquer outra intervenção externa que não fosse da sua etnia”.

REGISTROS NAZISTAS

No livro, Documentário Histórico de Porto Novo, o autor Roque Jungblut descreve que as consequências desastrosas do Nazismo na Alemanha também apresentaram ramificações entre os descendentes de alemães de Itapiranga: “Em Itapiranga o povo se empolgou com o nazismo, desfraldando estandartes com a suástica hitlerista. Nos anos 40 o nazismo foi condenado ao silêncio, mas não extirpado do senso panorâmico do itapiranguense”.

O nazismo era um movimento político ideológico alemão que pregava o Estado forte e o Governo Central com poderes supremos. Questões como o patriotismo exacerbado eram tidas como um dos principais apelos ao nazismo. “Para desenvolver tais sentimentos, foram pregados princípios, usavam-se símbolos externos, faziam-se manifestações de massa, usava-se a pressão psicológica, militar e a propaganda insistente; entoavam-se hinos”. O nazismo ainda apontava como impuros os judeus, homossexuais, negros, deficientes e ao mesmo tempo exaltava os alemães de sangue, denominados arianos.

O regime nazista fez com que alguns alemães fugissem da situação política e do desemprego na Alemanha no início dos anos 30. Alguns deles vieram para o Brasil e se integraram a Porto Novo.

Devido à pressão popular o Brasil declarou guerra à Alemanha nazista, em 1942, e mandou soldados para lutar na Segunda Guerra Mundial. Devido a isso, os descendentes de alemães sofreram muitas intimidações no país, sendo proibidos de falar o idioma alemão e realizar qualquer referência ao nazismo. 

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