Colocando a mão na massa

  • Folha do Oeste -

Uma forma de aumentar a renda no interior sem abandonar a propriedade rural. Assim pode ser definida a iniciativa de um grupo de agricultores de linha Cruz e Souza, interior do município de Barra Bonita, da Associação de Produtores de Massas, Doces e Conservas, que desde 2006 apostou em produzir alimentos à base de massas na localidade, criando a Padaria Cantinho Alegre. Atualmente, cerca de seis pessoas de quatro famílias trabalham no empreendimento. As duas primeiras são arrendatárias e as outras duas possuem uma pequena área de terra. Uma das idealizadoras da iniciativa, Helena Lamb, coordenadora do Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais da Associação Três Fronteiras, relatou que tem um irmão padeiro e, além disso, sua mãe e sua irmã faziam produtos caseiros para incrementar a renda. "Foi daí que busquei compartilhar a ideia com as demais famílias da comunidade e algumas aceitaram fazer parte", lembra.
 Segundo Helena, para os produtos terem sabor e qualidade, foram inúmeras as participações em cursos de capacitação, seminários e intercâmbios, visitando outras associações. Para atuar de acordo com as leis da Vigilância Sanitária, no começo dos trabalhos fiscais estiveram na padaria que funciona junto a uma escola destivada, e apontaram as adequações necessárias. A reportagem do Folha do Oeste esteve acompanhando os trabalhos na tarde do dia 25 de novembro e, neste dia, havia três pessoas trabalhando na produção. Além de Helena, estavam a presidente da Associação, Salete Mulinari, e seu marido Jurandir Mulinari. Questionados sobre a forma de administrar, os três foram unânimes em afirmar que é preciso ter um presidente, uma pessoa para ficar no comando. "Todos têm sua vez de se expressar, e também o que um sabe fazer todos fazem. Quando alguns estão resolvendo problemas, fazendo compras ou entregas em outros locais, os que ficam aqui sabem fazer de tudo", explica Salete.
 Todos os associados podem trabalhar quando bem entenderem. No local, existe um livro de ponto e cada um recebe R$ 2,00 por hora trabalhada. Quem põe a mão na massa também pode levar para casa os produtos com valores diferenciados, ou seja, ao preço de custo. O marketing dos produtos veio através da participação do empreendimento em feiras na região Sul e Feira Livre em São Miguel. "Já participamos de feiras até em Joinville e temos produtos à venda no Ceasa, em Florianópolis. A imprensa em geral, ao fazer matérias de nossa padaria, também  nos ajuda na divulgação. Pensamos em crescer e por isso já estamos ampliando o espaço físico devido ao grande número de pedidos. A estrutura atual não consegue atender a demanda de pedidos", comenta Helena.
 O pontapé inicial foi dado graças a um recurso a fundo perdido do programa Microbacias 2, no valor de R$ 10 mil. A contrapartida das famílias foi de pouco mais de R$ 4 mil. A partir daí, quando a iniciativa deu certo, o grupo adquiriu mais financiamentos para aquisição de equipamentos e assim por diante. Atualmente, o valor em equipamentos no local chega a R$ 45 mil e o estoque a mais de R$ 5 mil.
 A padaria recebe encomendas para coquetéis, festas, comemorações e afins. Nos finais de mês, cada membro recebe por hora trabalhada, que é anotada em um livro de ponto. "Hoje, o lucro que resta por mês ainda é pouco, porque estamos pagando os investimentos. Mais para frente estaremos todos recebendo uma remuneração melhor", dizem eles.
 O que os integrantes do grupo mais lamentam é o fato de estarem morando no interior e não poderem usar matérias-primas para a produção dos alimentos, como leite, farinha, ovos, carnes, queijos, mel, açúcar mascavo e afins. "A legislação prevê somente a utilização de produtos industrializados. Nossa intenção era utilizar os produtos que temos em casa, mas infelizmente não podemos. Temos que comprar tudo no mercado e isso aumenta os custos. Só podemos mesmo usar a água", disse Jurandir, que não pode mais trabalhar na roça em razão das restrições médicas pelo uso de agrotóxicos.
 Ele disse que grande parte destes produtos são adquiridos de outros grupos organizados e isso acaba se tornando uma corrente. "Fizemos parcerias e permutas", emendou.
 Atualmente, a padaria conta com 43 produtos que podem ser oferecidos, todos com tabelas de informações nutricionais. "Vivemos uma expectativa grande em virtude de termos conseguido vender produtos para serem incluídos na merenda escolar, além de fornecer para grupos de idosos de Barra Bonita e para a cesta básica local", explicou Helena.
 Durante esta caminhada, três famílias acabaram desistindo de fazer parte do grupo, duas devido ao pouco lucro no começo do empreendimento e outra em função do relacionamento. "Devolvemos todo o dinheiro que eles investiram, tudo corrigido com juros. Em todo negócio, o primeiro passo é investir. Neste anos, estaremos novamente encarregados de organizar o Café Colonial do Dia do Município e esperamos que o público compareça, pois será uma ótima oportunidade de o pessoal conhecer melhor nossos produtos", finalizaram.

Desenvolvimento de sistemas: é preciso segmentar Anterior

Desenvolvimento de sistemas: é preciso segmentar

Próximo

Editorial

Deixe seu comentário

Nossas Redes

Impresso