Caminhos para o empreendedorismo rural

  • Folha do Oeste -

Em meio a ambientes cada vez mais competitivos, o produtor rural Celso Hammerschmitt encarou o desafio de se tornar empreendedor rural, sem perder suas especificidades e diferenciações.

Ser empreendedor no mundo globalizado atual é um grande desafio, principalmente em meio às inúmeras atividades e novidades mercadológicas. No entanto, desde que se tenha atitude, determinação, e principalmente formas inovadoras de organização e administração que venham transformar as experiências, o conhecimento e os bens em novos produtos, o empreendedorismo cada vez mais é uma alternativa que pode garantir o sucesso profissional de muitos homens do campo que usam novos métodos a partir do próprio conhecimento.

PERFIL
Com mais de 50 anos de vida, Celso Hammerschmitt foi o terceiro filho de uma família de dez irmãos. Aos 15 anos, perdeu o pai e a partir daí começou a trabalhar e administrar a propriedade. "A história de minha família teve vários estágios. Venho de uma origem humilde e pobre, e com a perda de meu pai ficamos com muitas dívidas para pagar e não restou outra alternativa senão termos que trabalhar para quitá-las", diz.
O agricultor da comunidade Santa Cruz, interior de Itapiranga, conta que não teve muitas chances para estudar, tanto que cursou apenas até a quarta série do Ensino Fundamental. A atividade agrícola era a principal fonte de recursos da numerosa família. "Lutamos muito, trabalhamos e enfrentamos sérios problemas financeiros, mas graças aos esforços conseguimos superar e estamos hoje em uma situação bem melhor", comenta.

ORIGENS
Nos anos de 1970, a família Hammerschmitt decidiu apostar na suinocultura, mas, devido a epidemias nos suínos, o investimento quase foi por água abaixo. "A peste suína africana desvalorizou o preço da carne e isso fez com que nós quase quebrássemos", destaca.
A partir de 1980, e com 22 anos, Celso já estava casado. Nessa ocasião, saiu da casa da mãe para morar nos fundos da colônia da família, que tem 31 hectares e hoje é dividida em três partes. "Começamos uma vida nova, pois não tinha luz elétrica nem água instalada, construímos um galpão onde de um lado morávamos e do outro lado criávamos suínos e gado", conta.
As dificuldades eram grandes e logo a nova família de Celso crescia. O agricultor teve sete filhos, os quais ajudavam na propriedade, mas aliavam os serviços aos estudos. "Sempre priorizei para meus filhos o estudo, pois sei de sua importância, já que tive algumas dificuldades por ter estudado somente até o  primário".

ATIVIDADES
Em meados de 1990, depois da crise com a produção suína, Celso partiu para a atividade da bovinocultura com ênfase na produção de leite, onde havia uma intensa distribuição dos trabalhos entre os integrantes familiares. Desde então, o agricultor conta que priorizou e destacou mais a administração dos negócios.
Em meio às atividades, Rosa Hammerschmitt, esposa de Celso, produzia doces, bolos e bolachas. "Começamos a perceber que a qualidade dos produtos caseiros que ela fazia podia render algo mais", argumenta Celso, acrescentando que a partir daí iniciou uma busca e também uma análise de mercado para os produtos: "Ingressamos inicialmente, e principalmente, com os produtos caseiros, nas feiras livres; e então, aos poucos, começamos a nos destacar com as bolachas, com o pão de milho, com o pão de trigo e com as cucas.
Ele diz que no começo foi complicado: "As primeiras vendas não foram fáceis pelo fato de ainda não sermos conhecidos e precisávamos de maior destaque para nossos produtos". Foi aí que surgiu a iniciativa de darmos início às degustações, onde os clientes podiam experimentar os produtos: "Em questão de dois meses tínhamos conquistado uma boa freguesia, a partir de então aumentamos nossa produção. Por fim, decidimos ampliar nosso negócio e também realizar uma pronta entrega". Buscando recursos, o agricultor, que tomava o caminho do empresariado e se tornava um empreendedor, começou a planejar a construção de uma padaria na propriedade rural.

INVESTIMENTOS E RETORNO
O ano de 2006 passava a ser marcante na vida de Celso e da família, pois foi nesse período que ocorreu a inauguração oficial da padaria. "Quase mil pessoas participaram da inauguração. Abrimos as portas para que os interessados pudessem conhecer nosso trabalho e em menos de dois meses dobramos a produção".
O sucesso do evento de inauguração veio através de um bom planejamento de marketing. "Desde que começamos a vender mais, iniciamos a divulgação de nossos produtos na rádio. Para chamar o público, sabíamos que o rádio seria um bom caminho e queríamos atingir o público da cidade também".
A rádio local realizou uma cobertura ao vivo do evento de inauguração e a repercussão foi grande. "Os que participaram da inauguração se encarregaram de realizar uma propaganda 'boca a boca'', ocorrendo, a partir daí, um fluxo de credibilidade fora do esperado", diz.
A produção hoje é intensa e o principal produto, aquele que o agricultor, e agora empreendedor, denomina de "carro-chefe", é a cuca enrolada produzida de forma colonial. "Um dos grandes diferenciais de nossa padaria são os fornos usados no empreendimento, que são coloniais no estilo da vovó, que antigamente se fazia e que hoje as padarias tradicionais não têm mais", argumenta.
A instalação da padaria no meio rural também foi um atrativo para o marketing da empresa. "O interior também precisa de empreendimentos. Desta forma, nem há a necessidade de o homem do campo ir à cidade para comprar um pão ou uma cuca", diz Celso, destacando que o investimento em máquinas e equipamentos foi importante para um bom retorno financeiro.

EMPREGADOR
Atualmente, cinco pessoas trabalham na produção e mais quatro na pronta entrega. Dentre os colaboradores, a padaria Hammerschmitt também emprega dois agricultores que são moradores da comunidade. "Nosso diferencial e nossas ações tornaram nosso produto conhecido regionalmente, o que nos faz pensar em ampliar ainda mais nossos trabalhos, pois temos bastantes clientes que vêm de São Miguel do Oeste e passam aqui para comprar nossos produtos, mas antes vamos planejar e viabilizar melhor a ideia".
Celso enfatiza que, em meio às experiência que teve, percebeu que pequenas atitudes podem fazer uma grande diferença, e que a coragem para tornar os objetivos reais é fundamental. "Medo de iniciar as atividades nunca houve, o que fizemos foi um grande investimento para atender ao cliente. Mas tivemos alguns problemas financeiros que chegaram a preocupar, no entanto nosso trabalho foi voltado e gerenciado com margem e estatística, por isso não fiquei receoso, visto que acreditava no mercado".
Hoje, a linha Santa Cruz, que agrega 35 propriedades rurais, é destaque no município, tida como a oitava comunidade na participação do movimento econômico de Itapiranga, e o empreendimento de Celso, somado às demais propriedades, ajudou a pequena comunidade a conquistar esse posto.

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