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Assassinato de sindicalista revolta produtores
Stefani foi morto com tiro na cabeça
Na segunda-feira, o assassinato de um sindicalista em Aberlado Luz reacendeu o conflito de terras entre índios e agricultores. O crime ocorreu por volta da 1h da madrugada de segunda-feira, 16, quando o presidente do Sindicato Rural de Abelardo Luz, Olices Stefani, de 52 anos, foi conferir a informação de que índios estariam invadindo uma área em disputa, próxima de onde ele plantava 120 hectares de soja.
Porém, logo na saída do município, em uma rua que liga o centro de Aberlardo Luz ao bairro São João Maria, local mais conhecido como Toldo Embú, o sindicalista deparou-se com uma barreira de pessoas, quando alguém abriu fogo atingindo-o na cabeça. O veículo conduzido por Stefani desgovernou-se e tombou ao lado da estrada. Logo atrás do sindicalista, seguiam mais seis pessoas em duas caminhonetes, que foram feitas reféns pelos índios, mas que foram liberadas ainda na segunda-feira.
O fato levou o deputado João Rodrigues (PFL), representante do Oeste catarinense, à tribuna na primeira sessão plenária de 2004. ?A nossa sociedade está sendo refém de bandido e de marginal, e não me venham com essa história de discri-minação racial contra índios, de pele branca, pele negra e pele amarela, enquanto estiver com uma arma na mão, prejudicando os demais, no meu ponto de vista são bandidos. Eles se sentiram heróis negociando com a Polícia Federal e com o juiz federal?, falou o parlamentar.
Segundo Rodrigues, este fato só está acontecendo pela inoperância do governo. ?Esta invasão foi patrocinada por alguns órgãos. Os índios calaram um cidadão, mas não calaram a sociedade porque ela não se cala diante desses fatos?.A juíza de direito da comarca de Abelardo Luz, Karen Francis Schubert, acompanhou o caso desde às 03:30h da madrugada do dia 16. As negociações foram lideradas pela Polícia Federal e por representantes da Funai, com o apoio da Polícia Militar do município e da região, da Polícia civil e do pelotão de Operações Especiais da Polícia Militar.
Após a liberação dos reféns, o delegado policial civil, Ademir Tadeu de Oliveira, requereu à juíza um mandato de busca e apreensão para o ?Bar do Juca?, localizado no perímetro do local onde se deu o conflito. As informações eram de que vários armamentos teriam sido escondidos pelos índios no interior do bar. O mandato foi deferido pela justiça, e cumprido na manhã seguinte pela Polícia Civil, Militar e Federal, tendo sido encontradas diversas armas de fogo e munições, inclusive revolveres e espingardas.
A investigação do crime está ao cargo da Polícia Federal de Chapecó, e a principio o processo correrá na Justiça Federal. Entretanto este posicionamento não é definitivo. Para o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de SMOeste, Elias Rost, que também participou dos atos fúnebres em Abelardo Luz, o Estado teve uma grande perda, a de um defensor da categoria e da propriedade. ?Ele foi assassinado brutamente ao defender os seus direitos. Esperamos que com este acontecimento as autoridades e o governo agilizem a demarcação dessas áreas de uma vez por todas, porque os produtores estão bastante revoltados?, alerta.Rost teme que as áreas que possam a ser demarcadas sejam produtivas e áreas adquiridas por agricultores a 60 ou 70 anos atrás. ?O governo não está indeni-zando a propriedade de ninguém, simplesmente o produtor está perdendo sua propriedade. Os governantes estão muito morosos em tomar alguma providência e aprovar uma lei. A Funai está incentivando a invasão das propriedades?, afirma.
Um ato público aconteceu ontem na rodovia SC-467, em Abelardo Luz reunindo cerca de 3 mil lideranças do Oeste catarinense em protesto contra o assassinato do líder sindical. Dezenas de entidades organizaram o ato, entre elas Sindicatos Rurais, prefeituras, Câmaras de Vereadores e associações empresariais. A rodovia foi fechada no quilômetro 37, das 7 às 18 horas, tendo como ponto alto a manifestação às 14 horas, com pronunciamentos e manifestos das lideranças políticas, sindicais e econômicas.
O presidente do Sindicato Rural de Abelardo Luz, Olices Stefani, era pai de três filhas. Também presidia a Cooperativa Agropecuária. O crime teve repercussão nacional e o Senado da República convocou uma audiência pública para discutir a questão indígena no dia 4 de março, em Brasília. O Senado também aprovou proposição do senador Leonel Pavan para realizar outra audiência em Abelardo Luz, na primeira quinzena de março.
Por outro lado, os deputados catarinenses Odacir Zonta e Gervásio Silva comunicaram à Faesc que pedirão a instalação de uma CPI para investigar a Funai devido a constatação de que um veículo da Fundação Nacional do Índio escoltou os ônibus que transportaram o grupo de índios kaigang da Reserva de Mangueirinha (PR) para invasão de terras no local do crime.
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