Favelas: qual a solução para uma vida melhor?
Condições de vida nas favelas e a criminalidade são preocupações contínuas das autoridades
Os problemas se arrastam há anos. Entra governo, sai governo e poucas atitudes são tomadas e assim, a cada dia, mais e mais pessoas passam a viver nas periferias das cidades, nas favelas. Em São Miguel do Oeste, assim como em grandes centros, a realidade não é diferente. São centenas de famílias vivendo com muito pouco e sem as mínimas condições de infraestrutura. Mas, além de todos os problemas sociais, o que mais preocupa é a exploração destes locais pelos criminosos, que se utilizam da falta de oportunidades destas pessoas para atuar no comércio ilegal e na criminalidade. Dificilmente se passa uma semana sem alguma atuação das polícias Militar e Civil nas favelas de SMOeste, à procura de assaltantes, traficantes, drogas e armas. Há poucos dias, seis homens foram presos e um adolescente apreendido em uma operação na Favela Serra Pelada, local onde funciona um ponto de atuação de muitos criminosos. Mas, e dentro dessa realidade, como fica a vida das pessoas de bem que moram no local, daqueles que trabalham e que têm os filhos na escola? Essa é uma das grandes preocupações das autoridades, já que inúmeras famílias vivem nestes locais por falta de oportunidades, e outros tantos se aproveitam desta situação para praticar crimes. Desde o início deste ano, pelo menos três famílias precisaram se mudar da localidade devido às ameaças de criminosos. Segundo o comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar de SMOeste, tenente-coronel Benevenuto Chaves Neto, a PM está presente nestes locais na tentativa de oferecer segurança à população mas, conforme ele, hoje a favela se tornou refúgio de pequenos traficantes. "Essas pessoas se acham no direito de mandar no local e expulsar pessoas de bem. Hoje, retomamos o controle disso e mantemos permanentemente durante 24 horas viaturas no local", enfatiza. O comandante também destaca que por mais que haja ações das polícias no local, isso não vai resolver o problema. "As causas de todos esses problemas são questões sociais, que não dependem só da PM. Os organismos sociais precisam resolver esse problema, que começou com invasões de terras da prefeitura e isso foi se deixando passar e hoje temos um aglomerado de pessoas pobres que precisam de uma assistência social, famílias sem nenhuma estrutura para dar educação adequada às crianças e muitos que se preocupam apenas em sobreviver, onde higiene, saúde e educação ficam sempre em segundo plano. Isso forma um caldeirão propício à atuação de criminosos e ao tráfico de drogas, em um local onde 99% das famílias são de bem, pobres e necessitadas, mas de bem. O que precisamos agora é extirpar esse 1% que está incomodando os demais e isso nós estamos fazendo", enaltece. Também é essa a visão do delegado da Polícia Civil, Ricardo Casagrande. Conforme ele, as operações policiais não podem sozinhas resolver o problema da criminalidade, já que se trata de uma situação de caos por que passam inúmeras famílias. "Esse é um local onde os moradores vivem sem as mínimas condições de higiene e de moradia. Na última operação da Polícia Civil na Serra Pelada, houve um processo de orientação aos moradores e todas as ações no local foram fotografadas e filmadas, para posteriormente esses fatos serem encaminhados ao Ministério Público, ao Poder Judiciário e à prefeitura. "Com isso será providenciado um relatório para que os outros poderes constituídos possam tomar iniciativas que cabem a eles, principalmente em relação à assistência social. Os criminosos atuam no local justamente pela falta de infraestrutura dessa comunidade e não adianta só a presença da polícia, que lógico que inibe a pratica de crimes, mas é preciso mais do que isso, é preciso um trabalho social a ser desenvolvido nestes locais", ressalta Casagrande. Solidão Desde que a neta de 14 anos foi recolhida pelo Conselho Tutelar, a solidão tomou conta da pequena casa da idosa Natalícia Ferreira de Freitas, de 84 anos. O apoio vem dos vizinhos, que sempre alertaram a aposentada sobre o envolvimento da adolescente com a criminalidade. A avó não conseguiu \'segurar\' a jovem e agora a menina só pode voltar para a família se ela se mudar da Favela Serra Pelada. Doente e vivendo com apenas um salário mínimo, os olhos de Natalícia se enchem de lágrimas ao falar da tristeza de ver sua neta partir e de não poder mudar de vida para ter a jovem com ela novamente. Conforme ela, as duas viviam bem, a jovem estudava, mas chegou uma época que as más companhias influenciaram e não teve mais jeito. "Ela era uma menina muito boa, nunca brigou comigo e eu também nunca ergui a mão para ela. Criei ela desde pequena e ela era a minha companhia e agora eu estou sozinha", lamenta. Hoje, o que Natalícia mais deseja é ter a neta de volta e poder ter uma vida melhor em outro local. "Tentei evitar que ela se envolvesse com essas pessoas, mas não consegui e hoje o que eu mais quero é que Deus me mande ela de volta", desabafa. Vontade de mudar O dinheiro da aposentadoria de Doracilia dos Santos, de 62 anos, e o trabalho de coletor de materiais recicláveis do marido oferece uma vida confortável ao casal e ao neto pequeno que vivem em uma pequena casa de madeira na Serra Pelada, mas a vontade de mudar e ter uma vida melhor é grande. Doracilia conta que a vida é boa, onde todos têm acesso a atendimento médico, à educação, que os vizinhos não incomodam, mas sempre existe o medo de criar o neto pequeno no ambiente de uma favela. Essa é a grande preocupação da idosa, que durante a noite ouve a ação dos criminosos nas proximidades. Segundo ela, a polícia podia entrar todos os dias na favela, porque assim todos poderiam viver mais tranquilos ainda. A idosa também faz planos para o neto e espera que quando ele for maior possa escolher uma profissão. "Ele vai estudar e quando estiver maior vai trabalhar, ele vai escolher, mas não quero que ele se crie aqui nessa favela. Eu estou aqui porque não tenho como comprar uma casinha em outro lugar, longe dessa violência", projeta. A aposentada conta que nunca ninguém lhe ofereceu uma casa em um projeto habitacional, mas ela deixa bem claro que não quer nada de graça, que pretende pagar por uma nova casa. "Eu tenho muita vontade de sair daqui e se o governo liberar uma casinha dessas eu quero. Eu posso pagar, tenho minha aposentadoria, não faltando comida eu posso pagar. Aqui não nos falta nada, mas criar uma criança dentro dessa favela eu não quero", enfatiza. "Esse é o meu cantinho, não quero sair" É dessa forma que uma idosa de 62 anos, que prefere não se identificar, define a casa humilde onde mora na Favela Serra Pelada. A casa tão limpa, o jardim arrumado, a hospitalidade da idosa e o grandioso sorriso demonstram a vida dela e de seu neto na favela, residência da família a cerca de cinco anos. "É muito bom viver aqui, onde ninguém me incomoda. Se é pra eu sair daqui e viver em outro lugar com um amontoado de gente, eu não vou. Eu gosto daqui, gosto de SMOeste e não tenho intenção de sair", salienta. A aposentada conta que muitas vezes ouve barulhos e brigas, mas que os seus vizinhos são diferentes, onde todo mundo se dá bem. A idosa conta que nos últimos tempos, depois da ação da polícia, o local está mais \'quieto\' e destaca que apóia o trabalho da polícia no local. "Eu apoio, porque eles são da Lei e podiam ser ainda mais duros. Se a pessoa na faz nada errado, a polícia não vai mexer com ninguém", enaltece. A senhora também reconhece que, por se tratar de um local mais carente, os criminosos se aproveitam para atuar no local. "Não é porque a gente mora em um lugar simples, que a gente vai se jogar a fazer tudo que não presta, a gente tem que se valorizar. Existe preconceito, mas eu me dou bem com todo mundo, não falo com bandido e ninguém me incomoda", destaca.
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