Dia de Finados: Nada parece tão incompreensível quanto a morte

O culto aos mortos foi uma prática fundamental de quase todas as religiões, principalmente as mais antigas.

No dia 2 de novembro, as pessoas costumam prestar homenagens aos seus entes queridos que já faleceram. Aliás, um costume muito antigo, sendo o respeito aos mortos uma das características mais marcantes no ser humano, desde o Egito antigo e em povos que o precederam. Respeitadas as diferentes formas culturais, o homem homenageia as pessoas que lhe foram queridas ou importantes, de várias formas. Uma delas é na construção de verdadeiros monumentos, obras de arte, que enfeitam os cemitérios das cidades. Outra é quanto ao tipo de urna utilizada. Atualmente as mesmas têm preços que variam de R$ 300 a R$ 15 mil. No cemitério em SMOeste há túmulos bonitos mas nada muito suntuoso. Os valores de um túmulo variam de R$ 500 a R$10 mil, dependendo do material utilizado. Segundo o administrador do cemitério municipal São Miguel e Almas, Valdir Jorge Bertó, há no local cerca de três mil túmulos e os mesmos guardam aproximadamente 7 mil corpos. ?Acredito que há disponibilidade para enterrar ainda muitos corpos, mas seria arriscado definir quantos ou uma data para o fechamento do local,? explica Bertó. Ele ressalta que nos últimos três anos, ali foram investidos R$ 50 mil em reformas, construções, ajardinamento, colocação de bancadas e embelezamento do local que é considerado, por visitantes, como ponto turístico. Bertó revela que as visitas surgem das mais diversas partes do país e que os elogios são constantes pela preservação e respeito ao local. Ele também cita que as pessoas podem enterrar seus mortos em sistema de giro, ou seja, é um arrendamento que funciona da seguinte maneira: ao depositar um corpo a família paga uma taxa de R$ 22,50 válida por 5 anos e que deve ser renovada. Para as pessoas de baixa renda, comprovada, estão disponíveis cerca de 115 lugares. ?Hoje a pessoa negocia o local com a administração e não há exploração porque o preço é o mesmo para todos. No caso de pessoas sem condições ou que comprovam rendimento de até um salário mínimo, a municipalidade auxilia,? declara. A Igreja Matriz São Miguel Arcanjo dispõe de gavetas ossárias que podem ser adquiridas a R$ 480. Oportunidades O dia 2 de novembro, além de incentivar as tradicionais visitas das famílias aos túmulos para prestar homenagens especiais aos mortos, também cria a oportunidade para trabalhadores formais e informais oferecerem produtos e serviços. Para os pedreiros e pintores a época dedicada aos mortos serve como incremento para a renda familiar. Eles oferecem serviços de reformas, limpeza e pintura de túmulos, que variam de R$ 10 a R$ 50. Muitas vezes são também contratados por familiares dos falecidos durante o ano, mas a procura maior é mesmo em datas especiais, como finados. Já proprietários de floriculturas afirmam que a data incrementa as vendas. Muita gente compra flores e velas nas próprias barraquinhas montadas próximas aos cemitérios, mas quem deseja um arranjo ou um vaso mais sofisticado, vai até uma floricultura. Os preços das flores varia de R$ 6, a R$18, e os vasos com embalagem podem ser comprados a partir de R$ 9. As flores mais procuradas nesta época do ano são os cravos, crisântemos, copos-de-leite e flores do campo. Os arranjos preparados conforme o pedido do cliente custam de R$ 25 a R$ 50. A história O culto aos mortos foi uma prática fundamental de quase todas as religiões, principalmente as mais antigas. Inicialmente, esteve ligado aos cultos agrários e da fertilidade, pois acreditavam que, como as sementes, os mortos eram enterrados com vistas à ressurreição, um novo nascimento. Por isso, a idéia central é a vida, que deve surgir de algo oculto e misterioso. O primitivo Dia de Finados era festejado com banquetes e orgias perto dos túmulos, costume disseminado em várias civilizações da antigüidade. A Igreja instituiu a comemoração ao dia dos mortos, oficialmente, no século X, passando então a ser um culto mais religioso. Atualmente a data transcende o lado religioso. É mais emotiva e comercial, sendo que, em frente aos cemitérios, há comercialização de diversos produtos, principalmente coroas, flores e velas. Visão espírita sobre a morte Os seres humanos acabam racionalizando demais ao criarem um dia específico para chorar por seus mortos, segundo o secretário do Centro Espírita Seara da Fé, Jânio Schreiner. Ele argumenta que o melhor seria lembrar freqüentemente dos que se foram desta vida, retornando ao mundo espiritual, não com tristeza, revolta ou saudosismo, mas para transmitir vibrações de paz e amor, porque os que se desligaram do corpo físico, na verdade não estão mortos, mas retornaram à vida espiritual. ?Todos nós somos espíritos imortais envoltos temporariamente no corpo físico, estando neste planeta de passagem, no convívio com outros espíritos afins ou com comprometimentos gerados em vidas passadas. Ao desligar-se do corpo físico, o espírito conserva a mesma personalidade, os mesmos defeitos e qualidades, podendo ser influenciado pelas vibrações dos familiares e amigos que aqui ficam e assim estão sujeitos a grandes sofrimentos por causa do desequilíbrio de determinadas manifestações. A visita ao túmulo é apenas a exteriorização dos sentimentos pelos mortos, enquanto a prece e o pensamento positivo santificam o sentimento, nos dizem os Espíritos Superiores, e podem ser feitas em qualquer local, não necessariamente onde estão sepultados os corpos já deteriorados. Schreiner diz que esta data é ignorada pelos espíritas, pois o culto aos ?mortos? em um dia especial, com lamentações e atos exteriores, poucos benefícios produzem, tanto aos que ficam, quanto aos que se foram, principalmente porque normalmente são relegados ao esquecimento no resto do ano. Ele esclarece ainda que seguir a máxima de Jesus: ?Conhecereis a verdade e ela vos libertará?, sabendo de onde viemos e para onde vamos, porque e para que estamos neste mundo, é o caminho para entender que não existem ?mortos?. ?Todo dia é dia dos vivos, tanto daqueles que ainda estão presos aos laços da carne, como dos que estão dela libertos, de retorno à pátria espiritual, preparando-se para prosseguir na caminhada evolutiva rumo à perfeição,?encerra. Os encontros do Centro Seara da Fé acontecem às quartas-feiras, às 20h, na rua Pio XII, 219, no bairro Agostini. Visão cristã sobre Dia de Finados Finados não é o dia dos mortos e sim o dia dos viventes, segundo o padre Domingos Costa Curta, da paróquia São Miguel Arcanjo. Ele afirma que é um dia de encontro entre os familiares, parentes e amigos. Um dia de solidariedade. ?Finados volta-se para o passado: são memórias e saudades dos nossos queridos que já partiram, a quem lembramos com muitas flores, coroas e também muitas orações. São lembranças que nos ligam a nossas raízes, aos nossos antepassados. Mas, justamente porque rezamos e temos fé, finados é muito mais do que simples saudades ou memórias sentimentais. Para os cristãos, finados é principalmente um dia de olhar para o futuro com muita esperança e muita fé,? explica. O padre enfatiza que é com uma esperança assim que os cristãos celebram a comunhão dos santos nesse Dia de Finados, porque acreditam que um dia o mundo será melhor; que um dia haverá paz entre todos os povos, raças, línguas e religiões; porque acreditam que um dia, justiça e paz se abraçarão (Sl 85,10), e que se cumprirá o que São Paulo fala na carta aos Coríntios: ?Nenhum olho humano viu, nenhum ouvido ouviu, nenhum coração humano imaginou o que Deus preparou para aqueles que O amam? (1Cor 2,9). ?E, se acreditamos que essa é, na realidade, nossa esperança, então podemos concluir que finados é também um dia de compromisso com o presente, compromisso com a solidariedade universal, compromisso para impedir a morte precoce das crianças, compromisso em superar a pobreza que destrói antes do tempo tantas vidas humanas, compromisso em trabalhar contra todo tipo de violência que gera tantas mortes (no trânsito, nas drogas, nos assaltos, nas guerras...), compromisso de um mundo mais bonito para todos, não apenas para os ricos e privilegiados; compromisso, enfim, em favor da vida, que é o objetivo do Evangelho de Jesus: ?Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância...? (Jo 10,10). Que seja aquela vida bonita e feliz que queremos para nós e para nossas famílias.? É um dia para refletir sobre a nossa vida. ?Não serão apenas nossas palavras, nossas missas e orações que vão definir nosso futuro, mas sim nossa prática concreta em favor da vida,?diz o padre, citando MT 25, 40: O que tiverdes feito ao menor de meus irmãos é a mim que o fizestes. Assim dirá Jesus em nosso encontro final com ele. Por isso, apesar de nossos pecados e tantas falhas nossas, coloquemo-nos sempre ao lado da vida, da comunhão, da solidariedade, do perdão, da justiça, da vida digna para todos, trabalhemos por um outro modelo de mundo, mais aberto para a fraternidade e Deus nos acolherá no seu grande abraço,? finaliza. A Secretaria de Saúde de SMOeste alerta as pessoas para que não deixem vasos com água quando forem depositar flores nos túmulos de seus entes queridos, devido à campanha de combate à dengue. Os trabalhos preventivos são executados normalmente, porém os técnicos da Secretaria os intensificaram neste período. Há um monitoramento em toda a cidade, através da secretaria, para evitar o ressurgimento do mosquito aedes aegypti, inclusive com blitz em pontos estratégicos. Nas rótulas do Besc e Caixa Econômica Federal, serão distribuídos folders, adesivos e orientações. No cemitério, sacos de areia e adesivos para quem estiver colocando flores. O Corpo de Bombeiros de SMOeste alerta a população para que tome certos cuidados ao acender velas dentro de casa, principalmente, neste período em que se costuma utilizá-las mais. ?As velas devem ser acesas nos túmulos ou nos cruzeiros dos cemitérios, onde o material inflamável será a cera. O perigo de acender velas em casa, segundo o comandante, é que existem muitos materiais inflamáveis, como as cortinas, mesas e papéis.
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